Uma visão de que a Fé é para o meio

Durante nossa caminhada com Cristo, inevitavelmente, iremos passar por momentos difíceis onde nossa fé será testada, provada, não importa o tempo que estejamos nessa jornada, o título que carregamos, a posição que ocupamos, certamente esse momento chegará. Quando ele chegou pra mim, percebi o quão autossuficiente, independente e emancipada eu era de Deus, não sei o quanto isso faz sentido para você, mas quanto maior o nosso tempo de caminhada mais achamos que conhecemos a Deus e temos a absurda ideia de achar que já sabemos tudo, já aprendemos tudo, conhecemos tudo, podemos controlar tudo, inclusive controlar a Deus (sendo bem sincera). 

Hoje, olhando para trás e analisando esse período da minha vida, vejo o amor de Deus e seu cuidado, mas enquanto estava vivendo-o parecia que não suportaria, eram dias infindáveis, noites tenebrosas e eu estava sozinha durante o processo, aliás, quase sempre, quando Deus quer nos ensinar algo, mexer em nossas estruturas, romper com ideologias, Ele nos leva para o secreto, um lugar onde ficamos a sós, e dentro deste contexto caótico, Ele me ensinou que a fé é para o meio e eu gostaria de compartilhar essa verdade com você, pois acredito que dias difíceis estão por vir e precisaremos nos fortalecer em Deus através da comunhão com o corpo, ao redor de uma mesa, compartilhando nossas experiências e dessa forma, edificados pelo Espírito Santo.

  • A Natureza da Fé:

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem. Pois pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem.” (Hb 11: 1-3)

A fé é algo que todo cristão precisa desenvolver, ela é como um dispositivo que move céus e Terra e traz o sobrenatural até nós. Conhecemos bem aquele versículo que diz que sem ela é impossível agradar a Deus, no entanto, para uma boa parte de nós, viver essas verdades, andar sobre essa porção, ainda é um grande desafio, pois a natureza do ser humano faz com que se mova a partir dos sentimentos, dos sentidos, principalmente por aquilo que vê. Sem dúvidas a visão tem o poder de nos fazer agir, nos mover ou nos paralisar e aí está um grande problema, pois a fé é desenvolvida exatamente por convicção daquilo que não vemos.

 O texto acima diz que ela é a certeza das coisas que se esperam (se esperamos é porque ainda não chegou) e a convicção de fatos que não se veem (se não vemos é porque ainda não está ao nosso alcance, no nosso campo de visão), logo, podemos concluir que o sentido da visão que atua sobre nós, nos fazendo avançar ou retroceder, se opõe ao princípio básico da fé.  Mas Deus, conhecendo a nossa fragilidade e a nossa natureza nos exorta de maneira muito clara a respeito de como devemos agir em relação àquilo que vemos, observe esses dois versículos:

“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4:18)

“Visto que andamos por fé e não pelo que vemos” (2 Co 5:7)

Para desenvolvermos a fé, andar e se mover por ela, nossos olhos naturais precisam estar fechados, cegos e nossos olhos espirituais abertos e ativos, caso contrário, ouso dizer que nossa fé está morta, inoperante.

Durante os meus dias no secreto com Deus, Ele compartilhou comigo essa diferença em mover-se por aquilo que se vê e andar por aquilo que se crê.

Visão X Fé:

Aqui, iremos analisar dois textos muito conhecidos, mas que virou chaves dentro de mim quando Deus me fez enxergar algumas verdades contidas neles. Vejamos o primeiro:

“Naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem. E eles, despedindo a multidão, o levaram assim como estava, no barco, e outros barcos o seguiam. Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água. E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro, eles o despertaram e lhes disseram: Mestre, não te importa que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança. Então lhes disse: Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé? E eles, possuídos de grande temos, diziam uns aos outros: Quem é esse que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4: 35-41)

“Deus não vê como vemos e o seu tempo não é como nosso tempo.” Cansamos de ouvir isso, e exatamente por ser uma frase tão comum em nosso meio se tornou corriqueira, não paramos para extrair suas verdades e vive-la, não nos apropriamos dela. O texto acima começa dizendo que já era tarde e ainda assim Jesus diz a seus discípulos para atravessarem o mar da Galileia, esse foi o primeiro ponto que Deus tratou comigo, os “tardes” da minha vida. 

Com os nossos olhos naturais olhamos para nossa caminhada e identificamos tantas coisas que já pensamos serem “tardes”: sonhos, projetos, casamento, filhos, trabalho, ministério, vocação… e realmente a nossa conclusão está correta, fizemos uma análise assertiva baseados naquilo que estamos vendo. Jesus, aqui nessa passagem, também concluiu que já era tarde, porém Ele acrescentou: “passemos para a outra margem”, ou seja, existe outra realidade, existe uma verdade que nossos olhos naturais não conseguem enxergar, porém para alcançarmos a outra margem será necessário passar pelo meio e é exatamente neste lugar que precisaremos desenvolver e usar nossa fé.

Mas não é fácil aceitarmos ao convite para atravessarmos, mesmo sendo Jesus a nos convidar, muitas vezes não temos a mesma disposição dos discípulos, nossa visão nos paralisa e ficamos presos nas verdades naturais sendo incapazes de nos movermos por fé, por aquilo que cremos, a partir de uma palavra liberada por Deus sobre nossas vidas.

Até que chega aquele dia que finalmente dizemos sim e nos lançamos a outra margem, no entanto, para chegar lá, atravessaremos o mar da Galileia, passaremos pelo meio, onde uma tempestade nos espera, o lugar em que não adianta o quanto sabemos sobre fé, quantos sermões já ouvimos sobre o assunto, quantas músicas conhecemos, porque é na tempestade que a nossa fé precisa ser ativada, é exatamente nesse lugar que precisamos aprender a não viver por aquilo que vemos, mas sim por aquilo que cremos: vamos chegar à outra margem porque Jesus está no barco.

Não precisamos de fé para permanecer onde estamos e lá, na outra margem, não sabemos o que nos espera, sendo assim, a fé, o desenvolvimento da fé está no processo, está no caminho, nas experiências, nas tempestades que nos esperam durante a travessia. 

Nesse texto, os discípulos, embora tenham aceitado o convite de pronto, falharam na fé, pois para o meio, para aquilo que nos espera na travessia, nossa visão natural precisam dar lugar a nossa visão espiritual, a nossa fé precisa ser ativada e nossos olhos cegos, precisamos nos lançar ao mar da Galileia andando por aquilo que cremos e não por aquilo que vemos.

Vamos analisar o próximo texto:

“Grande multidão o seguia, comprimindo-o. Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque, dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do flagelo.” (Mc 5: 25-29)

Essa mulher também estava vivendo o “tarde” em sua vida havia 12 anos, o texto relata que já tinha feito tudo que podia e não tinha mais recursos, só piorava. Diferente dos discípulos, ela não conhecia a Jesus de perto, não o seguia, não ouvia seus ensinos diariamente, não era íntima, no entanto, existe algo nela maior do que podemos perceber neles: a fé.

No texto que lemos em Marcos, os discípulos se moveram a partir de uma palavra de Jesus: “passemos para a outra margem” e mesmo assim quando a tempestade do meio chegou, eles não colocaram sua fé em prática, se deixaram levar por aquilo que estavam vendo. Já essa mulher se moveu a partir do que ouviu: “Tendo ouvido a fama de Jesus” perceba que o sentido ativado é outro, é a audição, porém a tempestade do meio também chega para ela, entre a sua situação atual até o seu milagre, está uma multidão. Nesse ponto se faz necessário uma breve análise da situação dessa mulher:

  • Sofria de uma hemorragia há 12 anos, provavelmente era debilitada fisicamente, fraca, anêmica;
  • Baseado na lei vigente daquela época estava impura, pois durante o período menstrual as mulheres eram vista dessa forma;
  • Por ser considerada impura, há 12 anos estava afastada do convívio social. 

Fica claro perceber que assim como a tempestade do mar da Galileia açoitava o barco de maneira tenebrosa, a multidão para o contexto e realidade dessa mulher cumpria o mesmo papel, no entanto, diferente dos discípulos, ela teve fé para o meio, não se deixou levar pelo o que os seus olhos estavam vendo, ou aquilo que sua condição dizia, ela apenas creu e o resultado desse posicionamento foi o seu milagre.

Chegarão dias difíceis em que teremos que atravessar os “meios” de nossas vidas onde tempestades e multidões se apresentarão, nesse momento precisaremos ativar nossa fé independente do que as circunstâncias nos comunicam, precisaremos ativar nossos olhos espirituais e apenas crer que Jesus está no barco ou que Ele está logo alí, depois da multidão nos aguardando. 

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